Sebastião Nery
Em 1948 Salvador não existia. Era “a Bahia”. O interior inteiro, quando ia para a capital, dizia que estava indo para “a Bahia”. E “a Bahia” foi minha primeira grande aventura externa. Saí de Jaguaquara para a Bahia.
E chegou o mar. Nunca tinha visto o mar. Sabia que era grande e ameaçador. E ia ter que tomar o “navio da Bahiana”, da Companhia Navegação Baiana, que fazia Salvador e os outros portos da baía de Todos os Santos. De repente, numa curva, vi ao longe aquela coisa azul, enorme, espichada, como um imenso animal deitado. Era o mar.
O coração disparou. O trem foi se aproximando, parou perto. Fui comer meu camarão com chuchu, mas de olho no belo animal azul.
O trem parava em São Roque, havia uma meia hora para o pequeno navio sair. Corríamos em disparada para as barracas das baianas do camarão com chuchu, a maior contribuição culinária dos africanos à cozinha brasileira. Maior do que a feijoada, porque a feijoada é complexa. Camarão com chuchu é simples, come-se com colher.
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Viva a Bahia!
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